Boa relação com Trump é suficiente para garantir acordo comercial?
Na busca por um acordo com os Estados Unidos, Bolsonaro não pode negligenciar um outro fator importante nas negociações: o Congresso dos EUA
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o
presidente dos EUA, Donald Trump: Bolsonaro se
encontrará com mandatário americano nesta semana
(Montagem/EXAME)
Dentre as mais importantes metas anunciadas para o
encontro entre Bolsonaro e Trump na próxima semana
está a indicação de possíveis acordos econômicos
entre Brasil e Estados Unidos. Ainda que não
esteja claro quais exatamente os objetivos do
governo Bolsonaro nesse campo, para alguém que
chegou ao poder prometendo um aprofundamento das
relações com os Estados Unidos, a busca por algum
tipo de acordo comercial faria sentido.
A boa notícia para Bolsonaro é que a relação
pessoal com Trump deve fluir de forma positiva. A
má notícia é que isso não deve ter muita
importância.
Um fator que não pode ser negligenciado em
qualquer negociação com os Estados Unidos é a
importância do Congresso americano em questões de
política externa. Acordos que necessitam de
aprovação do Congresso têm um tempo próprio. É
extremamente comum serem iniciados com um
presidente e finalizados por outro.
As negociações para o NAFTA, por exemplo,
começaram por iniciativa do presidente mexicano
Carlos Salinas em 1990, mas o tratado foi assinado
nos estertores do governo do Republicano George
Bush em 1992 e ratificado pelo Congresso apenas
sob o Democrata Bill Clinton, em 1993. Importante
notar que, mesmo após anos de negociação e apoio
de dois presidentes de partidos diferentes, o
NAFTA foi aprovado com uma margem de apenas 34
votos na Câmara dos Representantes, que conta com
435 membros.
Da mesma forma, Peru e Colômbia iniciaram
conversas com os Estados Unidos sob a presidência
de Bush-filho, mas esses acordos foram
implementados apenas durante o governo Obama. O
caso do Chile é ainda mais gritante. Desde 1992 os
chilenos almejavam um tratado comercial com os
Estados Unidos, e Bill Clinton chegou a concordar
em incluir o Chile no NAFTA. Porém, Clinton
encontrou dificuldades no Congresso e o Chile
acabou assinando acordos separados com o Canadá e
com o México, mas não com os Estados Unidos.
Apenas em 2003, com Bush, o Chile finalmente
conseguiria assinar um acordo comercial com o país
norte-americano.
A menção a esses casos passados também serve para
ilustrar as dificuldades na comparação com o atual
contexto. Quando o NAFTA foi aprovado, Clinton
estava em seu primeiro ano de mandato e contava
com sólida maioria Democrata na Câmara e no
Senado. Além disso, o Democrata foi eleito com um
discurso que enfatizava as virtudes do
livre-comércio. Mesmo nessas condições, menos da
metade dos Democratas nas duas casas legislativas
votaram a favor do NAFTA.
O principal crítico do acordo durante a campanha
presidencial de 1992 era Ross Perot, um milionário
populista sem experiência política que se vendia
como um “outsider” e concorreu como candidato
independente. Perot acabou tendo a melhor
performance da história entre os candidatos
independentes à presidência dos Estados Unidos ao
angariar quase 20% dos votos naquela eleição. O
bom desempenho de Perot, tirando votos sobretudo
dos setores mais conservadores do eleitorado, é
considerada uma das principais razões pela
não-reeleição de Bush.
Desde 2016, o cenário é bastante distinto. Os
Republicanos elegeram um presidente que lembra
mais Perot que Bush. O partido Democrata, por
outro lado, está cada vez mais distante das visões
liberais de Clinton, com um número crescente de
apoiadores que se auto denominam socialistas.
Dentre os candidatos do partido que têm se
apresentado para as eleições de 2020, poucos
defendem abertamente o livre-comércio.
Em 2016, Hillary Clinton encontrou dificuldades
para bater Bernie Sanders pela nomeação do partido
Democrata. Sanders teve como uma de suas
principais bandeiras de campanha naquele ano a
rejeição ao Tratado Transpacífico (TPP), negociado
por Obama com o apoio de Clinton. Sanders já está
novamente em campanha e suas posições são hoje
mais populares no partido do que as de Hillary
Clinton, que por sua vez já anunciou que está fora
da disputa pela presidência.
As eleições de 2020 podem ser as primeiras da
história recente dos Estados Unidos sem nenhum
candidato dos principais partidos a empunhar a
bandeira da liberalização comercial. Nesse
contexto, as condições para um acordo do Brasil
com os Estados Unidos são muito menos auspiciosas
que as encontradas pelos países Latino-Americanos
mencionados acima. E o Brasil, ao contrário de
México, Peru, Colômbia e Chile, ainda teria que
equacionar restrições impostas pelo Mercosul.
Além disso, o grau de polarização no atual
ambiente político nos Estados Unidos é
consideravelmente mais alto do que no passado
recente, o que tem levado a constantes paralisias
no governo americano e cada vez menos cooperação
entre os dois partidos no Congresso.
Um exemplo para se prestar atenção é o caso do
novo NAFTA (rebatizado como USCMA), renegociado
por Trump e atualmente parado no Congresso com
poucas chances de ser aprovado sem modificações
relevantes. Já circulam comentários em Washington
que a líder do partido Democrata e presidente da
Câmara Nancy Pelosi não facilitaria a aprovação do
acordo, isto que isso seria visto como uma vitória
de Trump. Isso é uma pequena ilustração de como a
polarização política tem impedido a construção de
consensos domésticos nos Estados Unidos.
A conclusão óbvia é que, se o governo brasileiro
considerar que seu único interlocutor é Trump,
estará cometendo um erro colossal. Adicionalmente,
se levarmos em conta o histórico da atual
presidência americana em termos de negociações
comerciais, o governo brasileiro deveria ter
razões adicionais para ser cauteloso. Trump tem
uma visão basicamente mercantilista das relações
internacionais, que interpreta a existência de
déficits comerciais como uma evidência de que os
demais países tiram vantagens dos Estados Unidos.
Um alerta para o Brasil nesse sentido foi a
recente decisão do governo Trump de suspender o
tratamento tarifário preferencial dado à Índia por
fazer parte do Sistema Geral de Preferências
(SGP), que beneficia países em desenvolvimento, e
do qual o Brasil também é parte. A alegação da
administração Trump foi que a Índia não teria sido
capaz de assegurar aos Estados Unidos, que tem um
déficit comercial de mais de 20 bilhões de dólares
com o país, um “acesso razoável e equitativo” ao
mercado indiano. Isso, apesar de o país ser um
importante aliado dos Estados Unidos e o
primeiro-ministro Narendra Modi ter boa relação
pessoal com Trump.
A vantagem de Bolsonaro é que os Estados Unidos
possuem um superávit comercial com o Brasil que
mais do que dobrou entre 2016 e 2018. Mas isso não
vai adiantar de nada se o presidente não agir
estrategicamente e priorizar relações pessoais de
curto prazo.
#balancacomercial #comercioexterior #exportaçoes
#importacoes #fluxodecomercio #parceiroscomerciais
#comex #Secex #Exportacao #Importacao #GrupoFUTURA
#mundo #happy #SantaCatarina #love #ReceitaFederal
#News #BrasilAcimadeTudo #Brasil #China
#DespachanteAduaneiro #Aduana #DespachosAduaneiros
#sea #portos #air #aeroportos #fronteiras
#transportes #conteiner #container #joinville
#saofranciscodosul #saochico #itajai #itapoa
#navegantes #Acordodeinvestimentos
#acordoscomerciais #atracaodeinvestimentos
#facilitacaodeinvestimentos #USA #EstadosUnidos
#Trump #Bolsonaro #NAFTA
FONTE: